A DIREÇÃO DO GRÊMIO NÃO RESPEITA PORTADORES DE DEFICIÊNCIAPela depressão e a profunda tristeza que havia me acometido no último domingo resolvi boicotar a minha paixão e deixar de ir ao jogo dessa quarta.
Mas conversei com meu pai e ele iria, então, decidi ir junto.
Meu pai é um senhor batendo na porta dos 60 anos, dos quais 25% ele passou batalhando contra uma seqüência incrível de erros médicos e uma perna podre pendurada.
Tudo isso em virtude de um acidente de carro em 1986, quando um caminhão destruiu seu escort e esmigalhou seu fêmur esquerdo, marcando, ali, no chão da BR-101, próximo a Osório, um futuro duro e de muita luta por um membro e, posteriormente, pela vida.
Foram mais de 30 cirurgias para reconstruir o maior osso do corpo humano, diversos procedimentos patéticos e erros que culminaram com a amputação de sua perna em um momento em que seu corpo estava fragilizado em virtude de uma infecção hospitalar contraída no Hospital Moinhos de Vento.
Mas isso tudo nunca o impediu de acompanhar o Tricolor, de ir ao estádio com um monte de ferros enfiados na perna ou de viajar eventualmente com a gente para Caxias.
Meus pais são a grande razão do meu Gremismo.
Carregavam eu e meu irmão para o estádio desde a gestação.
Literalmente cresci dentro do Olímpico.
Todos os anos de minha vida, pelo menos uma vez, estive lá, na arquibancada.
Meu pai é sócio de longa data - há mais de 30 anos, creio eu.
Hoje, também sou sócio.
Pois nessa quarta iríamos os dois ao jogo, coisa que há tempos não acontecia.
O
véio tem um Honda Fit automático, que conseguiu comprar em razão do benefício que lhe dá direito por lei de descontos de até 40% no valor do carro e isenção de impostos.
Chegamos, então, à
zona da exclusão e passamos pela barreira dos brigadianos.
Ele iria estacionar lá dentro da área do estádio, há vagas para deficientes ali, em frente ao Portão 1.
Aliás, há uma
lei que obriga espetáculos e grandes eventos, além de estabelecimentos como shoppings, terem vagas de fácil acesso para
Portadores de Deficiência Física (PPDs).
Pois não é que ontem foi diferente.
Ao chegarmos no portão principal, fomos barrados por um funcionário antigo do clube - o conheço desde meus tempos de escolinha, mas não sei o seu nome.
Ele disse que aquelas vagas de deficientes eram
ROTATIVAS!
Que uma pessoa deveria estar guiando o carro, deixar o portador de deficiência ali, naquele "rotativo", e sair.
"
Determinação da Direção" - disse.
Determinação da Direção???
Oras bolas, a vaga para PPD é uma
DETERMINAÇÃO DE LEI FEDERAL!
Mas não adiantou argumentar, calmamente, e dizer que não foram poucas as vezes que ele usou aquelas vagas...
"
Mas o senhor pode estacionar ali, no meio da quadra" - apontou ele para um cidadão que veio correndo até a janela do carro.
"
10 reais ali, patrão!"
Os olhos de meu pai entristeceram ali de meu lado.
Ele nem olhou mais para aqueles
paus-mandados ali de fora, aliás, todo o externo emudeceu e nada mais parecia ter sentido.
Não se brinca com paixão desse jeito...
"
Não quero mais saber desse jogo. Se tu quiser, desce aí, eu vou embora".
"
Não, pai. Vou contigo, aqui não fico".
Saímos dali e terminamos a noite em um bar, perto de minha casa.
Achamos a Têmis e um colega de Catarse.
Tomamos umas cervejas e fumamos um charuto cubano.
Do jogo, não falamos e nada acompanhamos.
Quando entrei em casa, liguei a TV.
Os jogadores estavam perfilados para iniciar as cobranças de pênaltis.
Coloquei em
mute e assisti absorto à derrocada Tricolor.
Não senti nada. Não fiquei nervoso, nem triste.
Nunca havia me acontecido isso.
Esse desrespeito todo está nos matando...
FORA ODONE!!!
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Apito do Blackão (
GRÊMIO: SERÁ QUE O PIOR AINDA ESTÁ POR VIR?)
obs: este texto foi enviado á Ouvidoria do Grêmio e a um articulista da imprensa corporativa