segunda-feira, 25 de julho de 2011

A Noruega é aqui

O mais assustador de tudo é que as pessoas estão mais chocadas com a morte de um produto midiático, que é Amy Winehouse, do que com um massacre político de proporções nababescas. Amy não era nada a não ser uma marca, infelizmente. Não deixa nada de relevante para música, a não ser a lembrança de uma bela voz...
Por outro lado, tem-se um atentado sem causas de luta por território ou coisa parecida, em que o alvo foi bem delimitado e as consequências bem estudadas.
Não há nada de fanatismo religioso por detrás, por mais que o rapaz vocifere contra o islamismo - aliás, bater nesta tecla é desviar o foco do que realmente está na cara: foi um crime político, de caráter ideológico.
O cara foi estratégico. Escolheu um acampamento da juventude de um partido de esquerda que está no governo norueguês. Que vem crescendo. Mirou as novas lideranças que estão surgindo e colocou data pra marcar o sucesso de sua empreitada: 2083.
E não tem nada de Hitler na história, como se está tentando relacionar pelas bandas da mídia de acá.
Claro, porque é necessário se identificar de alguma forma uma anomalia no comportamento do cara, porque senão todas as razões que ele vem elencando para o seu massacre irão colocar uma gama muito grande de pessoas no saco que este idiota acabou de criar.
Suas ideias são como um compilado de bobagens que tenho ouvido por aí ao longo dos tempos, em jantares de família, saguões de faculdade, mesas de bar...todas essas coisas que permeiam a vida de um jovem da classe média porto-alegrense.
O que ele fez lá na Noruega tem um montão de gente por aqui que adoraria fazer com os integrantes do MST, ou com os moradores de rua, com negros, com vileiros, com os vagabundos do bolsa família, os maconheiros das marchas ou com os bicicleteiros que ousam desafiar os carros.
Na real, o cara não é nada original. Israel vem fazendo esse tipo de genocídio sistemática e estrategicamente há décadas.
Os ruralistas do Pará, idem.
Seria bem interessante, agora, ouvir daqueles que adoram mencionar o tal do "Estado Democrático de Direito" o que pensam sobre o assunto. Certamente sairá das análises coisas do tipo: "Nenhum extremismo é bom!"; ou "Fundamentalismo cristão ou muçulmano não têm diferença". Quem sabe uma assim: "Nacionalismos, na história, sempre se mostraram desastrosos: vide os casos de Stalin, Hitler ou da Revolução Cubana".
Nossa, que monte de merda!
Aliás, como bem me disse meu pai hoje em conversa ao telefone, ainda bem que o cara não se matou - e talvez esteja aí o único erro dele -, porque provavelmente continuará soltando todas essas bobagens, nos permitindo na prática contra-argumentar com o tio naquela mesa de jantar em algum apartamento do Bela Vista, ou com o colega da antiga, das bancas do Anchieta ou Farroupilha, e quem sabe também perceber o quão iminente estamos aqui, em Porto Alegre, de uma ação política violenta como esta, bastando olhar os indícios e percebendo que o perigo vem mesmo é de cima, da elite branca, direitosa, com asco à democracia e ao cheiro da diversidade. São sempre os mesmos, aliás, sempre foram os mesmos.
A morte veste Lacoste, viaja de Louis Vuitton e Tropa de Elite é seu filme predileto. Ah! E sorri pela missão cumprida...

2 comentários:

Anônimo disse...

Contempladíssima, Guga!

Dani

Miguel Graziottin disse...

Excelente analise.
Parabens.
http://miguelgrazziotinonline.blogspot.com/2011/07/quando-terrorismo-de-direita-torna-se.html