quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Exercício de Semiologia

Estava fuçando um pouco entre blogs pessoais de totais desconhecidos, nem eu mesma sei porque. De repente pra testar a paciência. Eis que acho uma pérola:

começa com fotos da ecografia da criança

Segue o post do papai internauta...

"Minha senhora que não saiba disso, mas chorei!
E como não se emocionar vendo o seu fioti na televisão?? Era quase um Big Brother..."


Espera aí...Quando mesmo que o filho aparecer em um programa babaca de TV ficou mais emocionante que o filho sozinho?

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi, Têmis!

Isso se explica através da midiatização da sociedade. Resumindo bastante o conceito: como o poder público e a iniciativa privada não suprem as necessidades das pessoas (de todas - independentemente de raça, credo, sexo, estado civil, profissão, profundidade do bolso, etc.) como todos esperam ser atendidos, a mídia (não apenas a corporativa, que sempre vai estar ao lado do poder do capital), como vivemos em uma sociedade de fluxos (fluxo de veículos, de capital, de informações, de amizades e de trabalho em rede), tudo passa muito rapidamente e a vida é presenteísta, isto é, sem preocupação alguma com a historicidade dos fatos nem com o futuro (não se crê mais em algo que não se sabe se, quando nem como chegará e nem quanto irá durar), também discute-se pouco os problemas da sociedade em praça pública.

De qualquer forma, por mais que se diga que o povo é despolitizado ou que todas as gerações maduras digamque as duas gerações imediatamente anteriores à sua foram "perdidas" e por menos gente disposta a se comprometer revelando o seu posicionamento (raros assumem ser de direita ou de esquerda) com medo de repressão, censura e desemprego, esses cidadãos "apolíticos" vivem fazendo política. Mas através da informação mediada que recebem dos meios de comunicação, não de discussões diretas com o poder.

Estudos sérios (agora, não tenho a fonte) afirmam que, em toda sociedade urbana e populosa, pelo menos 80% de tudo o que se discute ou se comenta dentro ou fora da política se dá através do que se assiste na mídia. A praça e a rua, salvo alguns poucos focos de resistência popular ou de configuração arquitetônica favorável ao encontro e ao compartilhamento da vida, deixam de ser a ágora.

Portanto, a comparação que o pai fez em relação a seu filho dentro da barriga de sua esposa com o Big Brother reflete a analogia mais óbvia que ele tinha na sua mente: se o Big Brother é ficar espionando pessoas confinadas através de câmeras dentro de uma casa, ele comparou a situação do nenê em formação com isso - sem contar que a tela do computador da ecografia parece com uma TV, que é a interface entre o espectador e o que está sendo assistido.

Sinceramente, não acho condenável essa analogia. Afinal de contas, é uma questão de gosto e do tipo de referência que a pessoa tem. ;)

[]'s,
Hélio