reportagem de Jefferson Pinheiro (Coletivo Catarse)
500 famílias sem terra estão dispostas a lutar até o fim. Se a polícia cumprir a ordem de despejo, há iminência de uma tragédia.
Expirou na quinta-feira passada (23/04), o prazo determinado pela Justiça Federal para que as famílias do acampamento Jair da Costa, em Nova Santa Rita / RS, se retirem da área onde estão, que é cedida pelo assentamento Santa Rita de Cássia II. Desde então, os trabalhadores aguardam com apreensão a chegada das tropas da Polícia Federal e da Brigada Militar. Se não houver uma saída negociada para o impasse, há um risco forte de uma tragédia.
“A determinação das famílias é de não abrir mão desse espaço, conquistado com luta. A disposição é de lutar até o fim. Tragam os caixões se quiserem, mas desse espaço nós não vamos sair. É uma área da reforma agrária. Se existe algum culpado neste processo todo, é o Governo Federal e esses órgãos públicos que fazem tacs (Termo de Ajuste de Conduta) em cima de tacs, determinam o fim das (escolas) itinerantes, mas ao mesmo tempo determinam que em 2008 era pra terem assentadas 2 mil famílias e até agora foram só 500 famílias”, explica Luciana da Rosa, acampada no Jair da Costa.
O despejo é considerado pelo Movimento uma ação política do Ministério Público Federal e da Justiça Federal. O argumento para a retirada dos sem terra é de que estão em uma área de preservação ambiental, o que o MST afirma não ser verdade. O acampamento, que já foi despejado da beira da estrada em 2005, em Nova Hartz, está em uma área coletiva do assentamento, cedida para que as famílias fiquem mais seguras.
Nesta terça-feira, 28 de abril, o acampamento tentava seguir seu cotidiano, com as crianças na sala de aula ou brincando em frente aos barracos, os adultos se ocupando das diversas atividades que envolvem manter a comunidade que sonha e trabalha pela reforma agrária. Mas não foi um dia como outro qualquer. Dezenas de acampados montavam trincheiras para dificultar o acesso da polícia numa ação de despejo.
“Mais uma vez, o poder Judiciário fecha os olhos para a questão social e coloca-se a serviço da criminalização dos movimentos sociais e a serviço de interesses obscuros. Lamentamos que ao invés de defender o artigo 184 da Constituição Federal – que prevê a desapropriação de latifúndios que não cumprem a função social – a Justiça e o Ministério Público estejam mais interessados em perseguir e criminalizar aqueles que querem a Constituição Federal cumprida.”, diz uma nota da coordenação estadual do MST,divulgada no dia em venceu o prazo para que as famílias deixassem o acampamento.
Os sem terra já são alvo de ações do Ministério Público Estadual desde o ano passado, e segundo eles essas medidas têm um claro objetivo de desarticular as famílias e dissolver o MST. “O movimento organiza os trabalhadores do campo e da cidade, por isso é preciso terminá-lo pra que não organize mais os pobres. Mas a disposição aqui é ir pro assentamento ou sair daqui pra debaixo da terra”, declara Luciana da Rosa. Assista no link abaixo um vídeo com entrevista concedida por ela e imagens do acampamento na manhã de terça-feira, 28 de abril:
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