Ou Porque estou deixando de ir nos jogos
Há algo estranho acontecendo com o Grêmio.
Depois daquela década de 1990, pelas mãos de Felipão e Paulo Paixão e gerenciamento de Fábio Koff e Cacalo, o Tricolor veio sistematicamente ano após ano perdendo...a alma!
Foram anos de coração na ponta da chuteira, um ímpeto que fazia corar a torcida, que estimulava até nas piores derrotas o crescimento do amor.
Se falava em camisa, em raça, em nunca desistir.
O tempo passou, o time desmontou.
Veio Celso Roth em 1998, talvez num suspiro de um trem que ainda empurrava desde o retorno da segunda divisão, iniciando-se em 1993, chegando à estação em 1997, mas ainda com fôlego para pegar uma vaga nas oitavas-de-final do Brasileiro daquele ano.
Claro, foi isso que iluminou os caminhos de Zé Alcino, que destruiu a Portuguesa na última rodada no Olímpico, que empurrou o interzinho pra fora da zona de classificação.
Foi a brisa que ainda soprava, agora tímida, que inspirou o centroavante Clóvis naquele voleio e Itaqui naquele pombo-sem-asas no Pacaembu, nos garantindo ainda vivos no playoff melhor-de-três de um formulismo absurdo (não fosse isso, teríamos nos classificado, o Corinthians caído e haveria outro campeão em 1998).
E, então, não de repente, já não existia mais sombra de nada.
Veio a ISL, Amato, Astrada e a volta de Paulo Nunes desastrada.
Passaram Guerreiro e sua gangue, lavaram o cofre, descontaram o cheque (um se provou que tentaram), diziam que seria um novo Grêmio, o clube do futuro.
Do futuro quebrado - o clube, não eles.
Em 2001, mesmo assim, um time bom, mas nem tanto - ok, o melhor desde Felipão.
Tentou-se, sim, com Gilberto, Tinga e alguns outros bons.
Mas não deu.
Como muito se gozou do interzinho e se gritou "Olímpia! Olímpia!" por tempos na década de 1980, nas arquibancadas do Olímpico, como um bumerangue, caímos nós diante de Enciso com sua camiseta colorada por debaixo do manto alvi-negro paraguaio.
Em mais um pouquinho morreu o espírito Tricolor.
Lembro que era época de eleição, e tinha um comitê de um dos gestores da fraude do Detran (segundo o MPF), seu ZeÓ Fala, liderança! ao lado do estádio.
E o buraco aumentava.
Veio 2003, não fosse aquela galera em Criciúma - eu estava lá - colocando mais torcida no estádio adversário do que os de casa, o inferno viria antes.
Claro, o inferno...de novo.
Como não poderia deixar de ser?
Quando aclamaram no cabresto o Obino, estava na cara, desenhado no html do site.
2004 batemos o recorde de derrotas, fomos o pior dos últimos colocados da história do Brasileirão. Chamaram até o capelão Cláudio Duarte pra velar o cadáver nas últimas rodadas.
Então, em 2005, 4 a 0 para o Anapolina.
Mesmo assim, um pouco de alma ainda nos restava.
Como uma Fênix, pelos mãos do encantado Galatto e dos pés do genial Ânderson, triunfamos na Batalha dos Aflitos - claro, com os pratas da casa!
Agora ia!
Foi?
Não...
2006, 2007, 2008, 2009.
Sem coração, sem nada, só lampejos, como o Gauchão que vencemos empatando no Beira Lago. Em 2007, talvez, naquele primeiro semestre, na Libertadores... É. Ali tinha, sim, resquício de coração, ainda, porque conseguir chegar à final com Ramón e Patrício no time, só na superação mesmo.
Mas já não era mais a regra.
O coração fora relegado pelos negócios e pela políticagem definitivamente.
E 2010 está assim, um tanto mais insosso - mesmo que se tenha os melhores jogadores desde os áureos dos anos 1990.
Meu Tricolor batendo recordes de vitórias seguidas e de invencibilidade em casa, e eu observando aquilo tudo absorto, como se visse conscientemente uma miragem.
Meu gremismo inabalável me levou a Caxias, naquele potreiro do Jaconi.
2 horas de chuva na cabeça pra ver um time sem coração, pro Silas não colocar o Mithyuê, pra ver dancinha do Jonas...
E, então, vem a derrota para o Pelotas, um punhalaço, um tiro de misericórdia.
Lembro de ter me sentido assim, parecido, quando daquela derrota para o Corinthians, na Copa do Brasil de 1995, uma dor imensa, uma ânsia.
Mas acontece que lá em 1995 havia coração, e a torcida, de imediato, cantou o nosso hino - "Até a pé nós iremos!".
Ninguém saiu, todos transformaram aquela decepção em um arrepio coletivo, uma catarse emocionante, uma ode aos guerreiros Tricolores: "Nós saberemos te honrar!".
E hoje? Nem a camiseta mais lembra o Grêmio...
No campo, 2 a 0 para o Pelotas, roubadaço na cara dura - e ninguém se indigna.
Assisti perplexo àquele jogo. E me abalei.
Não fui ontem. Não sei quando voltarei ao estádio.
Nem quero mais que o Victor fique.
Cada dia mais triste, mais longe...
Dói muito o que estou sentindo.
Saudações...
5 comentários:
Não chega a ser tanto assim, mas é quase isso. Em relação à saída de Victor,o que importa não é o quanto o Grêmio precisa dele ou o quanto a torcida quer que ele fique, neste caso, a única coisa que importa é o quanto o comprador vai oferecer.
É pura questão de grana. Nem o Victor tá se importando se vai ficar ou não, mas com o quanto vai ganhar no negócio.
Mas vida de gremista é assim; acreditando sempre.
Não te miches, índio velho!
Caro Guga!
Os anos 70 foram desesperantes e eu estava lá e sobrevivemos. A segundona do Rafael Bandeira nos colocou a prova, foi terrível, e sobrevivemos. O Tite e suas ovelhinhas naturalizou a derrota, perdia e nada acontecia, com o silencio da mídia, afinal tinha o ZO e um líder empresarial na parada. O pançudo deputado do PPS nos enervou, pela omissão e oportunismo, mas sobrevivemos, muito graças ao Mano e alguns gremistas dedicados e sobrevivemos. Agora inventou-se a construção de um estádio, e isso tem um custo. Todos os clubes que constroem estádios não ganham nada. Estaremos a prova até a inauguração da tal Arena. Vamos tentar ficar na linha d'agua e resistir. Se o mito estiver certo, com o novo estádio, a tal Arena, um novo ciclo vai se iniciar e vamos estar na crista da onda. Eu quero acreditar, mas quem sabe?
Vamos sobreviver, nem que isso seja uma esperança para os meus netos ou os teus filhos.
Aguenta vivente!!
exato. a torcida tem esse sentimento de vazio, de um time que nem perto lembra aquele time dedicado e qualificado dos anos 90. um pouco é culpa dos treinadores, outra é dos bastidores, das entranhas da politica no Grêmio.
A torcida não vai ao estádio por outras razões. A esmagadora maioria dos torcedores da Geral era criança em meados da década de 1990.
Ocorre que a Geral se dividiu: antes, ela puxava gente para o estádio e a cornetagem era menor, pois cantava em uníssono e era mais volumosa. Depois, virou um samba do crioulo doido atrás de uma goleira e outro atrás da outra.
Odone dava ingressos e subsidiava transporte. Duda cortou os naipes. A questão é mais de oportunismo do que política ou técnica.
[]'s,
Hélio
Pô gente "vamo" acreditar. Faz tempo que não tinhamos um cara como Borges, o Leandro. Tem o Mário, o Magrão. Foras os guris que mostraram seu valor. Até é bom que tenhamos um Grenal. Assim vamos ver quem tem mais "bala na agulha".
Força Grêmio.
Rodrigo Machado
São Leopoldo
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