Mais de 500 empresas cubanas ou internacionais que operam sites que oferecem links relacionados a Cuba foram afetadas por bloqueios a mais de três mil sites de Internet que utilizam o domínio funcional ".com", em função das leis norte-americanas de embargo a Cuba. Entre as páginas bloqueadas estão as de empresas do Brasil, Canadá, Espanha, França, Itália, Japão, México e Panamá.
Independentemente da maior ou menor eficácia que uma medida como a mencionada possa implicar, ela torna manifestos certos problemas que ainda não foram resolvidos, ou o foram apenas parcialmente, com relação à Internet e seu funcionamento, tais como a possibilidade de adotar medidas disciplinares em um país com relação ao funcionamento de um fenômeno mundial como a Internet e, por outro lado, a maneira pela qual medidas como a que foi mencionada afetam nossa liberdade enquanto cidadãos. Tratemos brevemente de ambos os pontos.
A primeira coisa que se torna evidente é que a medida proposta teria sido adotada pelas autoridades norte-americanas em cumprimento às leis do país. Mesmo assim, a medida se aplica a empresas que operem sites com domínio funcional ".com", independentemente de seu país de origem. Deixando de lado o fato de que, ao adquirirem o domínio ".com", as empresas envolvidas aceitaram se submeter às leis e às autoridades norte-americanas, caberia perguntar se isso ainda assim faculta legitimamente aos Estados Unidos adotar medidas como a que adotaram.
A questão coloca em destaque os problemas de regulamentação de um fenômeno transnacional como a Internet: com base em leis de caráter local, se pretende impor em todo o mundo um determinado critério de justiça, nesse caso o norte-americano. Enquanto não estiver em vigor uma legislação uniforme para o funcionamento da rede, correremos o risco de que continue, em última análise, a imperar a lei de quem dispuser mais meios de se fazer valer, a lei do mais forte - salvaguardadas as cláusulas contratuais, se bem que estas não sejam, muitas vezes, mais que a expressão formal da lei do mais forte acima mencionada.
Mas, ao mesmo tempo, é preciso que consideremos o alcance da medida. Usualmente, a alegação é de que a Internet é independente de qualquer governo determinado, o que lhe propicia imensa vantagem com respeito a outros meios de comunicação. Uma das coisas que mais se ressalta é o fato de que a estrutura técnica que embasa a Internet não depende de qualquer governo. Qual é a semelhança que existe entre esse bloqueio e aquele que as autoridades chinesas impõem aos sites que se opõem às suas políticas? Qual é o alcance de uma medida de bloqueio como a adotada pelos Estados Unidos? O bloqueio de páginas da Web se estende apenas a visitas que se originem de território norte-americano? Ou se aplica a todo o planeta?
Não importa quais sejam as respostas às perguntas anteriores, o bloqueio coloca em dúvida a suposta independência da Internet diante dos governos, e além disso insere as pessoas que implementam tais medidas no lugar que cabe com justiça àqueles que implementam práticas totalitárias e censuram a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa. E isso nos conduz exatamente ao segundo ponto - o efeito adverso desse tipo de medida sobre as nossas liberdades.
O bloqueio tradicional, analógico, afeta o abastecimento de Cuba e seus habitantes, e ao mesmo tempo a possibilidade mesma de empreender negócios com a ilha. O bloqueio online segue a mesma linha, mas afeta ainda mais pessoas, precisamente por afetar uma infra-estrutura mundial como a Internet; por isso, ele afeta nossa liberdades como usuários, e não só porque alguns de nós vêem bloqueada sua liberdade empreendedora, mas também porque muitos outros sofrem cerceamento de sua liberdade de expressão e de pensamento. Pode chegar o dia em que não apenas as páginas de Internet de empresas que comerciam com a ilha sejam bloqueadas, mas também os sites de ajuda humanitária, de intercâmbio cultural e de outras atividades que envolvam contato com os cubanos. Já que algumas coisas foram bloqueadas, nada impede que as demais o sejam igualmente.
O bloqueio de sites com base em um domínio funcional ameaça todo vestígio de soberania estatal mas, ainda pior, desperta recordações de práticas totalitárias por menosprezar a dignidade e os direitos fundamentais das pessoas. Com isso, são os fundamentos mesmos da democracia que estão sob ameaça.
Independentemente da maior ou menor eficácia que uma medida como a mencionada possa implicar, ela torna manifestos certos problemas que ainda não foram resolvidos, ou o foram apenas parcialmente, com relação à Internet e seu funcionamento, tais como a possibilidade de adotar medidas disciplinares em um país com relação ao funcionamento de um fenômeno mundial como a Internet e, por outro lado, a maneira pela qual medidas como a que foi mencionada afetam nossa liberdade enquanto cidadãos. Tratemos brevemente de ambos os pontos.
A primeira coisa que se torna evidente é que a medida proposta teria sido adotada pelas autoridades norte-americanas em cumprimento às leis do país. Mesmo assim, a medida se aplica a empresas que operem sites com domínio funcional ".com", independentemente de seu país de origem. Deixando de lado o fato de que, ao adquirirem o domínio ".com", as empresas envolvidas aceitaram se submeter às leis e às autoridades norte-americanas, caberia perguntar se isso ainda assim faculta legitimamente aos Estados Unidos adotar medidas como a que adotaram.
A questão coloca em destaque os problemas de regulamentação de um fenômeno transnacional como a Internet: com base em leis de caráter local, se pretende impor em todo o mundo um determinado critério de justiça, nesse caso o norte-americano. Enquanto não estiver em vigor uma legislação uniforme para o funcionamento da rede, correremos o risco de que continue, em última análise, a imperar a lei de quem dispuser mais meios de se fazer valer, a lei do mais forte - salvaguardadas as cláusulas contratuais, se bem que estas não sejam, muitas vezes, mais que a expressão formal da lei do mais forte acima mencionada.
Mas, ao mesmo tempo, é preciso que consideremos o alcance da medida. Usualmente, a alegação é de que a Internet é independente de qualquer governo determinado, o que lhe propicia imensa vantagem com respeito a outros meios de comunicação. Uma das coisas que mais se ressalta é o fato de que a estrutura técnica que embasa a Internet não depende de qualquer governo. Qual é a semelhança que existe entre esse bloqueio e aquele que as autoridades chinesas impõem aos sites que se opõem às suas políticas? Qual é o alcance de uma medida de bloqueio como a adotada pelos Estados Unidos? O bloqueio de páginas da Web se estende apenas a visitas que se originem de território norte-americano? Ou se aplica a todo o planeta?
Não importa quais sejam as respostas às perguntas anteriores, o bloqueio coloca em dúvida a suposta independência da Internet diante dos governos, e além disso insere as pessoas que implementam tais medidas no lugar que cabe com justiça àqueles que implementam práticas totalitárias e censuram a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa. E isso nos conduz exatamente ao segundo ponto - o efeito adverso desse tipo de medida sobre as nossas liberdades.
O bloqueio tradicional, analógico, afeta o abastecimento de Cuba e seus habitantes, e ao mesmo tempo a possibilidade mesma de empreender negócios com a ilha. O bloqueio online segue a mesma linha, mas afeta ainda mais pessoas, precisamente por afetar uma infra-estrutura mundial como a Internet; por isso, ele afeta nossa liberdades como usuários, e não só porque alguns de nós vêem bloqueada sua liberdade empreendedora, mas também porque muitos outros sofrem cerceamento de sua liberdade de expressão e de pensamento. Pode chegar o dia em que não apenas as páginas de Internet de empresas que comerciam com a ilha sejam bloqueadas, mas também os sites de ajuda humanitária, de intercâmbio cultural e de outras atividades que envolvam contato com os cubanos. Já que algumas coisas foram bloqueadas, nada impede que as demais o sejam igualmente.
O bloqueio de sites com base em um domínio funcional ameaça todo vestígio de soberania estatal mas, ainda pior, desperta recordações de práticas totalitárias por menosprezar a dignidade e os direitos fundamentais das pessoas. Com isso, são os fundamentos mesmos da democracia que estão sob ameaça.
Por Alberto Cerda Silva no Terra Magazine.
3 comentários:
A idéia que o bloqueio é a causa pelos problemas econômicos na Ilha-Prisão é uma mistificação. O problema é o socialismo. Mesmo o dinheiro dos Europeus e dos Latino Americanos a população continua sofrendo. Cuba é um regime brutal e devemos todos combatê-lo. Quem quiser ser cúmplice das suas atrocidades deve pagar o preço. Os EUA estão certos.
Os EUA estão errados. Punir a população cubana por um erro que os norte-americanos cometeram no passado, financiando a campanha guerrilheira de Fidel Castro em Sierra Maestra (há inúmeras fotos de Fidel recebendo doações em NY). Além do que os americanos são burros, pois o bloqueio aumentou o poderio de Fidel e o empurrou para os braços da Rússia. Se não tivesse o bloqueio, Fidel já teria caído há muito tempo. Mas o BLOQUEIO na Net pode ser resolvido mudando o site para outro país. Os EUA não tem moral nenhuma para criticar o bloqueio chinês ao Google, que é igualmente perverso. O American Way of Life é realmente um engôdo.
É, e aqui no Brasil tem ameaça de bloquearem o WordPress (escrevi lá no Cão sobre isso no domingo). Que liberdade de expressão é essa?
Ao Marcus que acha que os Estados Unidos estão certos: é muito estranho eles defenderem "democracia" em Cuba, e sustentarem uma ditadura militar como a do Paquistão.
Para o governo dos EUA, democracia é atender apenas aos interesses deles.
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