Olá!
Chegamos até o cartunista Latuff para conversar sobre cultura livre, como parte de uma reportagem especial para a TV Brasil. Uma versão da entrevista foi publicada no jornal Brasil de Fato, na edição de 20 a 26 de março. Aqui, ela está na íntegra: http://agenciasubverta.blogspot.com/2008/03/arte-engajada_27.html.
Queríamos a palavra do artista que tem sua obra exposta nos folhetos zapatistas no México, no muro dos campos de refugiados palestinos no Líbano, nas revistas dos sindicatos coreanos, nos livros bielo-russos sobre anarquismo e em tantas outras causas humanistas de peso na atualidade. Era preciso saber como ele encara toda essa influência do seu trabalho militante sendo negociado somente pelo valor da imagem e das idéias que elas trazem. Mas ouvimos mais. Latuff, além de construir novos padrões de compartilhamento da cultura, assume o engajamento político como essência de sua arte.
Alguns techos da entrevista: O Chico Caruso, num debate aqui na UFRJ, disse que não sou cartunista, sou ativista. Que quero botar fogo no mundo, enquanto ele e outros cartunistas como Jaquar e essa turminha querem construir uma mídia democrática para o Brasil: rá, rá, rá. O papel da arte não é ser correia de transmissão de políticas reacionárias. A arte que vale a pena hoje é aquela que questiona exatamente esses modelos. Ela tem que te colocar na parede, tem de fazer você sentir. Não precisa ser o tempo toda engajada, mas falta arte engajada.
Eu questionava se a charge poderia ser, de fato, um agente transformador. Eu pensava: “Porra, mas é só um desenho na revista, num jornal, na internet. Um desenho não pára um míssel, não pára uma bala”. Mas aí, conversei com um cara, em Gaza. Ele me fez lembrar que um dos heróis do povo palestino é um cartunista: Najir Al Ali. Então pensei: “Caralho, é isso. Realmente faz diferença. A arte levanta a moral quando você está na crise, é um tapa no ombro, é um afago na hora que você precisa”. Essas imagens apresentam uma visão diferente da grande imprensa burguesa e corporativa. São aquelas verdades inconvenientes que eles não querem que sejam vistas, mas a internet consegue quebrar esses bloqueios midiáticos. Muita gente vai soltar foguetes quando eu bater as botas, vai abrir champagne no dia em que eu morrer. Num site chamado Likudnik, me ameaçaram dizendo que Israel já deveria ter cuidado de mim de um jeito ou de outro.
Se consegui viver até hoje, comer, foi graças à imprensa sindical. Com meus pontos de vista, jamais poderia trabalhar na grande imprensa. A não ser que eu fosse uma espécie de Arnaldo Jabor, que me vendesse. Eu achava que ter um passado guerrilheiro era credencial para alguma coisa. Porra nenhuma! Que aí, os caras ficam velhos e viram a casaca fácil! Como se essa coisa da queda do muro fosse a desculpa que precisavam: “Não tem mais a disputa ideológica de esquerda e direita… os tempos mudaram… agora é democracia”. Aí, os caras abrem as pernas. E vai trabalhar onde? Na Globo, para de repente bater nos movimentos que, no passado, ele tinha afinidade ideológica.
Neguinho bate no Chavez 24 horas! É uníssono. Não é possível que num país enorme como o Brasil, de norte a sul, todas as emissoras só batam no Chavez. Não pode haver essa unanimidade, tem de ter um contraponto. Até nos EUA, que são aquele monte de reaça, você tem contraponto. Sobre a guerra do Iraque, sobre a questão palestina, em Israel você tem o contraponto. Você não vê um puto de um artista fazer concerto pela Palestina. Diversas outras campanhas que você possa imaginar, eles fazem: Darfur, as baleias, aquecimento global, o caralho de asas, mas você nunca tem da Palestina. Eu espero que os artistas sejam tocados, porque a situação está muito feia. As idéias fascistóides estão brotando do chão como erva daninha, estão ganhando espaço, sendo bem recebidas pelas pessoas. A grande mídia tem servido de alto-falante para essas coisas. É preciso voltar a incomodar. E a ideologia vai sendo colocada na nossa bunda no entretenimento, mas ninguém sente.
André de Oliveira
Catarse - Coletivo de Comunicação
Chegamos até o cartunista Latuff para conversar sobre cultura livre, como parte de uma reportagem especial para a TV Brasil. Uma versão da entrevista foi publicada no jornal Brasil de Fato, na edição de 20 a 26 de março. Aqui, ela está na íntegra: http://agenciasubverta.blogspot.com/2008/03/arte-engajada_27.html.
Queríamos a palavra do artista que tem sua obra exposta nos folhetos zapatistas no México, no muro dos campos de refugiados palestinos no Líbano, nas revistas dos sindicatos coreanos, nos livros bielo-russos sobre anarquismo e em tantas outras causas humanistas de peso na atualidade. Era preciso saber como ele encara toda essa influência do seu trabalho militante sendo negociado somente pelo valor da imagem e das idéias que elas trazem. Mas ouvimos mais. Latuff, além de construir novos padrões de compartilhamento da cultura, assume o engajamento político como essência de sua arte.
Alguns techos da entrevista: O Chico Caruso, num debate aqui na UFRJ, disse que não sou cartunista, sou ativista. Que quero botar fogo no mundo, enquanto ele e outros cartunistas como Jaquar e essa turminha querem construir uma mídia democrática para o Brasil: rá, rá, rá. O papel da arte não é ser correia de transmissão de políticas reacionárias. A arte que vale a pena hoje é aquela que questiona exatamente esses modelos. Ela tem que te colocar na parede, tem de fazer você sentir. Não precisa ser o tempo toda engajada, mas falta arte engajada.
Eu questionava se a charge poderia ser, de fato, um agente transformador. Eu pensava: “Porra, mas é só um desenho na revista, num jornal, na internet. Um desenho não pára um míssel, não pára uma bala”. Mas aí, conversei com um cara, em Gaza. Ele me fez lembrar que um dos heróis do povo palestino é um cartunista: Najir Al Ali. Então pensei: “Caralho, é isso. Realmente faz diferença. A arte levanta a moral quando você está na crise, é um tapa no ombro, é um afago na hora que você precisa”. Essas imagens apresentam uma visão diferente da grande imprensa burguesa e corporativa. São aquelas verdades inconvenientes que eles não querem que sejam vistas, mas a internet consegue quebrar esses bloqueios midiáticos. Muita gente vai soltar foguetes quando eu bater as botas, vai abrir champagne no dia em que eu morrer. Num site chamado Likudnik, me ameaçaram dizendo que Israel já deveria ter cuidado de mim de um jeito ou de outro.
Se consegui viver até hoje, comer, foi graças à imprensa sindical. Com meus pontos de vista, jamais poderia trabalhar na grande imprensa. A não ser que eu fosse uma espécie de Arnaldo Jabor, que me vendesse. Eu achava que ter um passado guerrilheiro era credencial para alguma coisa. Porra nenhuma! Que aí, os caras ficam velhos e viram a casaca fácil! Como se essa coisa da queda do muro fosse a desculpa que precisavam: “Não tem mais a disputa ideológica de esquerda e direita… os tempos mudaram… agora é democracia”. Aí, os caras abrem as pernas. E vai trabalhar onde? Na Globo, para de repente bater nos movimentos que, no passado, ele tinha afinidade ideológica.
Neguinho bate no Chavez 24 horas! É uníssono. Não é possível que num país enorme como o Brasil, de norte a sul, todas as emissoras só batam no Chavez. Não pode haver essa unanimidade, tem de ter um contraponto. Até nos EUA, que são aquele monte de reaça, você tem contraponto. Sobre a guerra do Iraque, sobre a questão palestina, em Israel você tem o contraponto. Você não vê um puto de um artista fazer concerto pela Palestina. Diversas outras campanhas que você possa imaginar, eles fazem: Darfur, as baleias, aquecimento global, o caralho de asas, mas você nunca tem da Palestina. Eu espero que os artistas sejam tocados, porque a situação está muito feia. As idéias fascistóides estão brotando do chão como erva daninha, estão ganhando espaço, sendo bem recebidas pelas pessoas. A grande mídia tem servido de alto-falante para essas coisas. É preciso voltar a incomodar. E a ideologia vai sendo colocada na nossa bunda no entretenimento, mas ninguém sente.
André de Oliveira
Catarse - Coletivo de Comunicação
Um comentário:
"O papel da arte não é ser correia de transmissão de políticas reacionárias. A arte que vale a pena hoje é aquela que questiona exatamente esses modelos. Ela tem que te colocar na parede, tem de fazer você sentir. Não precisa ser o tempo toda engajada, mas falta arte engajada."
Era exatamente isso o que defendia Stalin. A Arte é apenas engajada. O resto é conservadorismo, idéias reacionárias. O governante de plantão, a dinastia Castro, os Stalins, os Ches e os Lenins da vida é que são os verdadeiros demiúrgos, os esclarecidos que estão acima do bem e do mal que devem apontar a direção da flecha ideológica. Apenas eles é que podem e devem dizer o que é reacionário e o que não é e o que é revolucionário e o que não é.
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