Na sexta-feira filmamos a estréia da peça de rua da Terreira da Tribo na Praça da Alfândega.
Mesmo por detrás das lentes, foi emocionante.
No sábado, fomos assistir à beira lago, no Gasômetro.
Mais lágrimas...
Impressionante como se superam a cada nova obra.
Kasandra, Canudos, Missão...
Abaixo segue texto e fotos do companheiro Luix Costa, do blog Brasil Outros 500.
Um espetáculo lindo
Uma obra espetacular
Grandiosa em todas as dimensões.
O Amargo Santo da Purificação
Em 1980 a Terreira da Tribo de atuadores Oi Nós Aqui Traveiz já existia e tentou montar peça teatral baseada no livro Em Câmara Lenta, de Renato Tapajós, com o titulo “O Amargo Santo da Purificação”. Não conseguiram. A censura militar não deixou.
Ao retornar à idéia de representar o período seguinte até ao atual, o grupo retoma a obra proibida, seus textos, e encontra um personagem que poderia ser a linha de coerência destas últimas décadas da história do Brasil. E, ao contar a história da vida de Carlos Marighella, voltam até Getúlio e avançam aos dias atuais. Marighella é teatro de rua cantado em seus próprios versos, musicados de forma que aprofunda sua poesia.O guerrilheiro, entretanto, foi apresentado ao Oi Nós em um bar de Salvador, em 2003 quando excursionavam com o espetáculo A Saga de Canudos e encontraram a viúva de Marighella, Clara Charf, e o filho dele, Carlos, que cantou a debochada e alegre Marcha do Cacareco.
Paulo Flores, atuador do Ói Nóis - Carlos Marighella se tornou uma referencia para o Ói Nóis. O exemplo dele levou a resistência armada. Ao pensar em contar a história deste período, pensamos em Marighella e resgatamos o título da outra peça que foi censurada nos anos 80. Quando estivemos na Bahia, conversamos com o neto dele que nos apresentou ao pai, filho de Marighella.Depois, conversamos com Clara Chaf que nos apresentou o livro Rondó da Liberdade, de Marighella. O eixo principal de toda a peça são os poemas dele, que foram musicados.
Pedro de Camillis, atuador do Ói Nóis – Marighella é exemplo de ser humano. Um comunista que hoje parece diferente porque amava o povo. A trajetória dele é exemplar.
Quando terminou a apresentação primeira da peça, o público que a acompanhou numa ida e vinda, no espaço de cerca de 100 metros da rua dos Andradas, ou Rua da Praia, na Praça da Alfândega, estava todo com as emoções em frangalhos, esgotando o físico e ao mesmo tempo leves e livres.
Procurávamos nos recompor, especialmente buscando a respiração para conseguir falar uns com os outros, pois só quando a peça terminou é que conseguimos nos ver. Até então, centenas de pessoas, andando de um lado para o outro, só conseguimos ver os atuadores jogando suas incríveis interpretações dos personagens que iam contando a história d’O Amargo Santo da Purificação.
Olhos molhados, olhávamos em volta e para cima, sob a sombra das árvores e o amarelo do sol do meio dia. A impressão era de abandono. Porque terminou se já estávamos ficando viciados em algo tão bom. Mas terminou porque os signos teatrais indicaram e as palmas explodiram em vivas, vivas, vivas. E, através dos olhos embaçados, procurávamos identificar as pessoas conhecidas.Mas o prenúncio de que aquilo iria acontecer ocorreu um pouco antes. Não era só a platéia que estava emocionada. Olhos de uma das atrizes, ao cruzar com os meus, indicava a situação de aperto no peito.
Eles fazem muito isso com o público. Olham para as pessoas que estão na rua assistindo.
A atriz, acho, também estava emocionada, olhos marejados.
Muitos foram e ficaram porque sabiam que haveria o espetáculo.
Muito, muitos estavam passando, apressados, alguns no horário do almoço, outros apenas fazendo outra coisa quando foram ficando em torno, correndo de um lado para outro, se envolvendo com o enredo, já participando sem saber, fugindo de um soldado da ditadura, mas procurando outro lugar para olhar para trás e continuar vendo o espetáculo que fazia parte, mas também assistia.Quando tudo terminou, só percebemos o que aconteceu quando procuramos fôlego para falar com as pessoas que conhecíamos e as encontrávamos tão desestruturadas quanto nós, falando pausadamente, procurando respirar para ser compreensível.
E aí, Jefferson, e aí, Têmis, e aí, Brizolinha?
Povo que chora junto
Jamais será vencido.
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